terça-feira, 2 de agosto de 2011

As duas faces do relógio. Parte 1.




O tempo pode machucar.

"Olhando pro futuro, através de um retrovisor"

Pois é, hoje, dia 02 de AGOSTO de 2011. O que esse dia representa? Aparentemente nada, ou quase nada. Para mim é a vitória novamente. O triunfo de vida sobre a morte, DEUS sobre as trevas. Bem, eu comecei a pensar, Rodrigo Ponce com suas frases marcantes. "Pensar incomoda como andar a chuva quando o vento cresce e parece que chove mais."
Pensamentos, não tem como fugir deles, eu bem que tento, quem não tenta? Mas eu lembro muito bem, pois eu faço terapia há tanto tempo, desde os 18 anos. Estou caminhando a passos largos para os 26, diria que estou quase numa crise de 1/3 de idade, talvez menos pois nem eu sei os danos que causei ao meu corpo. Alguns são crônicos, irreversíveis, não sei quão debilitado estou por dentro. Fiz coisas que jamais imaginei que faria, em meu auge de sofrimento e angústia o qual eu jamais imaginei que passaria em minha mais tenra adolescência. Lá estava eu, ao contrário dos outros voltando das baladas sábado, domingo, segunda, terça, para mim não tinha dia. Inicialmente eram finais de semana, após isso tudo se perdeu, eu perdi minha identidade, eu não sabia quem eu era ou o que fazer, não sabia como lidar com uma falsa imagem que criei de mim. Querendo ou não, eu me tornei uma figura pública, as pessoas me pediam autógrafo, hoje em dia eu penso, por quê você está pedindo um autógrafo pra mim? Eu naquela época sequer tocava 1/10 do que eu toco nos dias de hoje na guitarra. Eu nunca fui aquele rostinho bonito, eu era apenas diferente, e não porquê eu queria ser diferente, e sim porquê eu era. Cresci em lugares diferentes ouvia músicas diferentes e tinha interesses diferentes, eu deveria pegar a caneta e mandar as pessoas irem embora ou falar "Porquê você está pedindo autógrafo pra mim? Você por acaso sabe o monstro que eu sou fora do palco ou no dia-a-dia e o quanto você está alimentando esse monstro com esse pedido? Eu que te devo um autógrafo. Pois você estuda, trabalha, você sabe ser filho (a), irmão, pai, tio, e tantas outras coisas que eu não estou nem perto de ser."
Bom, com tanto tempo em cárcere privado vamos dizer assim, foram 15 idas para me reabilitar e começar a entender o que é sociedade, e deixar de ser marginal. O que constitui o marginal? Viver à margem da sociedade. Assim eu vivia, à margem da sociedade. Eu afastei aqueles e aquelas, que mais me amavam e eu tinha um sentimento ambíguo por cada um deles. Ficava com ódio pensando que me abandonaram possivelmente no momento que eu mais necessitava, e amava pois bem, esses tempos uma pessoa me perguntou porquê você me ama? Eu fiquei sem resposta, balbuciei, gaguejei e não respondi como deveria. E sinceramente o amor não é algo que você responda "eu te amo por ISSO!". Ele nasce e cresce e evolui. Mas, o amor tem vida útil para muitos casos.
Como ter paz em meio ao caos, como aprender a ficar calmo dentro diante disso tudo. Minha maneira era a mais lógica de todas, eu procurava o que não havia dentro de mim, aliás, havia, mas eu não sabia que eu tinha ou talvez soubesse mas nunca consegui me agarrar àquilo. Uma areia movediça, eu acendi uma vela e apaguei, não sei o quanto dela já queimou, por isso não me atrevo a acender novamente. Pois DEUS me deu sonhos, e DEUS só nos dá sonhos como a bíblia revela em Êxodo para Arão, DEUS prometeu tudo pra ele, ele só tinha que ir e fazer o que DEUS lhe ordenou. Ele se agarrou justamente em seu ponto fraco. Ele não era bom em articular as falas, era gago, e não pensou no que tinha de bom, era um homem temente a DEUS, de boa conduta, bem vestido e como revela a bíblia, ele tinha boa aparência. Por isso Moisés foi essencial para ele. Josué, DEUS deu uma voz de comando a eles, a Jonas enviado para Ninive por Naum, pois DEUS ordenou também, VÁ, EU ESTOU CONTIGO. Eles temeram. Mas a obra foi realizada. Se nós não fizermos, alguém o fará. Não há como fugir disso.
E bem, hoje eu parei, almocei, e aproveitei a tarde livre o que graças a DEUS tem sido raro ultimamente, fui ver meus cães. A Hiena e a Cindy, temos um espaço grande lá atrás, porém o Canil nem tanto. Meu antigo sobrado no Jardim das Américas, lá tinha muuuuuuuuuito espaço e elas ficavam soltas. Eu olhei os dentinhos da Hiena (Kiki), estão amarelados, os pelos caindo, ela está magra. E ela apresentava sinais claros de depressão. Mesmo solta, ela resolvia voltar pro canil. Um cão que vivia conosco dentro do lar, ficava deitada no sofá conosco, hoje está lá, só é visitada para receber sua comida e sua ração e esporádicamente meu pai as leva para passear, e obviamente para a limpeza do canil, momento o qual não recebem a devida atenção. Meus amigos mais antigos sabem, o quanto eu era apegado a ela, viamos o video de skate, da 411, uma propaganda da Element onde o cretino (eu não gosto dele) do Bam Margera agarra um cachorro no colo. Eu treinei a Hiena, e ela estava fazendo isso, nossa, que cão. Pois é, ela retornava para o canil mesmo com ele aberto, é triste.
Foi aparecendo um outro cãozinho, e outro,e outro, e logo o espaço dela foi se limitando a ficar apenas na área lá de trás no antigo sobrado, ainda assim era um espaço enorme, muito maior que esse que ela tem hoje. E eu fico pensando quando olho um belo cão "nossa que lindo, gostaria tanto desse cão!" mas, e aí o que será dos outros? A Polly não recebe atenção alguma, ela tem problemas mentais não permite ser acariciada muito mas dá pra ficar com ela pelo menos dando uma atenção, a Kiki e a Cindy foram pro canil lá de trás extremamente restrito. A Fuska não teve TODA aquela atenção, ela era grudada à minha mãe, porém surgiu o Pepeu, o Bubba e eles hoje em dia recebem as maiores fatias do bolo.
Essa parte de me anestesiar para todos os meus sentimentos, e perder tanto tempo da vida, me faz lembrar uma música de uma banda que ouvia, na época do Skate, na época das bandas da Epitaph, da Fat Wrech "The Lawrence Arms - 100 resolutions"

"Where have I been all your life?
Sitting on fences, a novocaine for all the senses.
Another year will pass us by.
Making sense of nothing, in defense of something.
I laughed too late and dug myself into a grave.
This year I'll try not to think too much.
This year I'll try to stand up for myself.
This year I'll live like I've never lived before,
this is my year for sure!"

Ela era ninja, não vou conseguir explicar as coisas que ela fazia, ela dava salto mortal, eu juro. Tenho testemunhas oculares, os malabarimos que ela fazia com a bolinha, ou com aquele pano que faziamos ela escalar a escadinha para o "Quartinho da morte" como chamávamos a minha edícula, o porquÊ do nome vocês devem imaginar, com certeza não nos reuniamos lá para tomar um refresco e discutir coisas sobre o planalto central, astrologia ou filosofia. Eu não sei o que pensar da vida, o tempo passa voando, e quando você se dá conta disso, é porquê realmente você deixou de viver algo plenamente, ou não viveu como deveria. Não consigo conter meus prantos, em pensar em quanto sofrimento ainda paira sobre minha mente em pensar em tudo que acontecia por lá. Eu tive de tudo que eu queria, empregos bons, eu era o legítimo playboy, ganhei uma Parati Crossroads 1.8 assim que meus pais acharam que eu comecei a dar sinais de melhora e retomei a faculdade e o trabalho, mas não demorou muito para eu me afogar em uma garrafa e parar com a cara nos pratos e com o "herbarium" todo por lá. Porém, o tempo é tão ambíguo, faz tempo que não frequento terapias, eu comecei a ver que minhas conversas com meu terapeuta, serviram apenas para reclamar das coisas da vida e resolvi perguntar a ele, Dr, me dê um retorno. E por incrível que pareça, ele falou coisas tão boas de mim. Falou que eu não conseguia antes ir 2 vezes por semana que era o que eu tinha que fazer, e há 2 anos e meio que é o tempo que eu estou limpo disso tudo, ele fala que eu sou um paciente que ele se orgulha, pois ele falou que temia pela minha morte, ou por minha loucura permanente. Desenvolvendo fobias, rituais de TOC, não podia ouvir uma sirene, enfermeiros, se estivesse deitado em minha cama tranquilamente não podia ouvir o tilintar dos talheres, alguém bater à minha porta fazia meu coração sair pela boca.
Pois é, o tempo foi bom até mais ou menos 2003/2004, depois, tudo virou lama. Mas o tempo é ambíguo, ele é muito bom, ele é muito ruim. O tempo é o Tommy Lee Jones no papel de "double face".



2 comentários:

  1. Muito bom o texo heim! As reflexões ainda mais! Eu escrevi uma vez sobre o tempo também, acho que chegamos a algumas conclusões semelhantes olha la: http://joaopens.blogspot.com/2010/04/o-valor-do-tempo.html#comments
    Po, fiquei triste em saber da condição atual da Hiena, ela sempre foi tão serelepe! =/

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  2. Pois é John Jones... vai chegando mais cachorro, mais cachorro e atenção que ela tinha não tem mais. Lerei agora, com muito gosto! Não nego uma boa leitura, ainda mais vindo de um cara como você! =)

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