domingo, 4 de setembro de 2016

O destino final é a solidão

Eu me dei conta que todos os caminhos levam à solidão. Lá é o destino de todos e o bem aventurado é aquele que está bem preparado para quando chegar lá. Estar preparado para chegar lá significa estar preparado para trilhar o caminho até lá, e além do trajeto tem a chegada. Saber chegar lá e usar todos os ensinamentos que a vida deu de maneira sábia e eficaz. Eu fazia de tudo para estar cercado de pessoas porém eu sempre tive uma habilidade peculiar de me envolver com problemas, substâncias, lugares, situações, hábitos e desejos que acabavam por me deixar afastado de todos. Era muito desconcertante a ideia de estar sozinho em algumas épocas. Quando criança, eu não tinha prepara emocional nenhum e era como se a vida fosse uma espécie de professora numa sala do primário, tirando você de perto das outras crianças, todas elas brincando, gritando, gargalhando, rindo e sorrindo. Elas se machucam e dão risada dos seus tombos típicos de criança e enquanto isso eu era destacado daquela turma e levado até o outro lado da sala onde não tinha ninguém e não tinha nada além de meus livros escolares pelo qual eu não me interessava, algumas folhas e o lápis para que eu pudesse me distrair um pouco com alguns desenhos e obviamente os meus pensamentos que nunca desligavam e estavam sempre como almas penadas. Eles iam em direção à porta da sala, as vezes para perto das outras crianças e especialmente no tocar do sino para poder encontrar com minha mãe e ir para casa. Ir para casa significa almoçar, não ter problema nenhum, comer algum lanche gostoso e criar uma imagem de vida adequada onde nada me impedia de nada. Embora infeliz, essa comparação é válida para boa parte das coisas dos dias de hoje. Em todas as coisas que faço, meus pensamentos são voltados apenas em voltar pra casa e lidar com minha solidão de maneira sábia. Eu deitei numa noite dessas e tentei lembrar como era a sensação de deitar e dormir. Eu dormia quando voltava da aula, eu dormia quando chegava a noite e meus pais diziam para dormir. Enfim eu dormia. Eu não sei o que eu pensava e acho que me desespera essa cena que me vem na cabeça quando chega a hora de dormir, minha cabeça está funcionando plenamente, o filme que eu estava assistindo acabou e então minha cabeça entra novamente em seus conflitos. Os conflitos hoje estão todos direcionados a aprender a ficar bem. Eu sofro de uma ansiedade aguda e incessante que não sei nem pode onde começar. Em algum lugar da minha adolescência ela simplesmente apareceu. Era como um monstro que simplesmente estava ali e eu cutuquei ele com meus abusos. Álcool, maconha, etc. A ansiedade veio "gradualmente e de repente" é como a depressão chega segundo a personagem que faz o papel de Lizzie no filme "Geração Prozac". Gradualmente e de repente eu estava tomado por uma ansiedade e preso ao relógio, a um futuro sem lógica e o presente não existiu. Quase nunca em minha vida eu realmente estive o presente próximo a mim. Eu já me condicionei a fazer tudo automaticamente como se fosse um soldado em plena guerra, andando em meio a uma trincheira porém com a arma apontada para qualquer sinal de inimigos à sua frente. Se eu passei a um palmo de uma mina e quase dei fim à minha vida, eu nem vi eu apenas segui e olho para essa situação como "Uau, havia mesmo uma mina ali? Sorte a minha!". E assim eu segui em frente, agora com os olhos bem atentos a qualquer movimento estranho à minha frente e com um novo receio, as minas. Então o presente ainda não existe, enquanto alguns arrumam tempo para apreciar a paisagem eu estou apenas com medo e querendo chegar em casa. Eu agora conheço que existe o problema com minas terrestres também mas de maneira estranha, se nenhuma delas arrancar minha perna fora ou não me ferir o suficiente para causar imensa dor eu não vou dar a importância a elas. Estou andando na trincheira, estou caminhando e enfim não quero levar um tiro e não quero ser surpreendido. Nesse caminho, os demais soldados aprendem tanta coisa conversando uns com os outros e eu finjo que escuto, as vezes arrisco contar uma piada para mostrar que estou ali e me importo mas é uma camada muito superficial que fica bem maquiada por algumas risadas entre todos nós. A diferença destes detalhes é o que me tornou isso que eu sou hoje. Passei por tanta coisa mas hoje em pleno domingo não estou sequer preocupado com o que jantar ou nada disso. Estou preocupado em como vou estar amanhã, terça, quarta, quinta, sexta e sábado. Essa minha preocupação que me acompanha desde a minha adolescência, senti muitos olhares de compaixão, senti desprezo, senti indiferença, senti curiosidade, senti um pouco de medo, um pouco de raiva e senti que muitos achavam engraçado. Pois bem senti que alguns gostariam de ajudar de verdade e outros não faziam lá tanta questão de me ajudar, queriam que eu fizesse uma boa imagem deles e fingiam entender o que eu falava e falavam coisas como "Ahh... uma hora passa, toma maracujina. Descansa um pouco, pensa em coisas boas, deita lá apaga a luz e pensa em alguma coisa legal". Os poucos que chegaram perto de me ajudar já tinham passado por alguma coisa parecida ou mostraram que simpatizaram muito com a ideia de fazer alguma coisa a respeito. O resultado de todas essas pessoas não deu certo, eu ainda estou sozinho, quando tudo acontece, acontece comigo e apenas eu que tenho que lidar com isso. Em casa minha presença atrapalha, como qualquer animal que esteja sofrendo aqui. Eles tentam ajudar até para eles mesmo ficarem em paz, sem gemidos e nem sons de sofrimento. Não culpo ninguém por isso. É desconfortável ter alguém que esteja passando por alguma situação ruim bem ao seu lado e você não saber como ajudar ou não ter sequer como ajudar. Esse é um caminho solitário, e o destino? Solidão. Eu não entendo como vou chegar lá, eu nem sei até onde vou. Eu tenho 30 anos, não consigo imaginar mais 30. Eu olho minha vida e parece que ela já foi muito longa. Lembro que alguém comentou algo essa semana "passou rápido, quando vi estava com 30". Pra mim não é assim, nem de perto. Pra mim é muito esquisito pensar como seria ter 60 anos. Significaria passar por tudo isso de volta. Como eu não lembro das coisas até os 5 anos de idade mais ou menos com clareza e mais uns 5 foram apagados com minhas inconsequências alcoólicas, eu subtraio 10 anos. 10 anos por conta do tempo que dormi, o tempo que é esquecido naturalmente da nossa infância e mais algumas horas de internamentos e blackouts alcoólicos que faz com que uma parte da minha vida tenha sido como um filme, naquela parte do menu "avançar apresentação". Aquilo lá está escondido em alguma parte do meu cérebro e eu não sei ao certo se eu quero mesmo saber o que é que existe lá. Concluo assim que mais 30 anos seria mais do que eu vivi. Eu achei esses 20 anos longos e se eu não tiver essa paz esses 30 anos serão pesados, serão dolorosos e eu continuarei sendo um ótimo ator, eu sorrio eu conto piadas eu sou o último ser que você imagina que tem problemas pois eu não saio falando deles por aí e já sofri muito por mostrar quando não estava bem, então logicamente aprendi a sorrir, fingir, e sair à francesa da cena direto para meu quarto, para minha cama e para minha tentativa de colocar meus pensamentos em ordem. Eu estou confuso, essa jornada toda onde não há presente, há apenas uma mistura, um "blend" de sensações do passado com uma projeção do futuro próximo. Sim um futuro próximo, se eu não me fiz claro que não consigo imaginar minha vida muito longe daqui então eu vou esclarecer pra você: Eu imagino minha vida dividindo-a em blocos semanais baseado nas agendas que tenho na memória com as atividades das minhas bandas e com o calendário letivo dos meus alunos. A vida é uma sequência de passado e futuro e elas ferem o presente. Embora eu não viva o presente ele dói e agressor principal é o passado que formou uma imagem do presente. Parece loucura, eu mesmo me assusto por falar assim dessas coisas. Mas elas já são parte de mim há tanto tempo. Eu sei que eu vou chegar à solidão e lá eu quero ter ferramentas para não enlouquecer de vez, quero ter alguma coisa realmente boa para poder fazer por mim mesmo para que a solidão não seja sofrida. Para que a solidão não seja solidão, para que a solidão apenas seja. Como qualquer coisa, como água, ar, comida, solidão. Ela é, ela está e ponto final. A solidão não me assusta, eu sei que é o destino de todos, é o lugar todos pertencem e alguns chegam antes, alguns chegam e saem, eu não sei se o normal é viver tão longe de lá. Por hora, eu estou indo pra lá, estou tentando sorrir e estou evitando sofrer enquanto luto com o meu próprio cérebro. Eu acho engraçado colocar dessa forma mas acho uma comparação adequada. Alguns grupos de aves não podem comer carne, uma vez que elas aprendem a comer carne elas começam a se mutilar, começam a comer suas patas e enfim onde quer que seus biquinhos alcancem. Dessa maneira atua o meu cérebro, em cada link que ele faz com alguma coisa da minha vida ele consegue bagunçar, revirar, causar medo e por fim trauma. Ali eu fico mutilado e o presente se torna mais distante novamente, e o futuro uma preocupação bizarra que toma o lugar do presente. Esse novo ponto que meu cérebro traumatizou agora é um alvo em potencial no futuro, igual a trincheira que mencionei. Eu agora ando com múltiplos alvos e com ainda mais apatia, menos sinceridade em meus sorrisos e menos verdadeiras também minhas tristezas. Em rumo à solidão, até que eu consiga realmente resolver isso na minha cabeça, eu vou vivendo invejando todos que sorriem, que choram e que não precisam aprisionar seus próprios cérebros, suas próprias ideias. Imagine se seu braço tivesse vontade própria e com fortes tendências a esmurrar seu rosto. É um pouco disso. Meu cérebro tem vida própria e ele tem uma obsessão danada em achar alguma coisa que me assuste e me paralise e eu vou lutando contra ele com gotas de clonazepam. Elas freiam um pouco o cérebro dessa obsessão obscura que ele tem de me sabotar. Desde meus 15 anos, foi com 15 anos que meu cérebro se virou contra mim e apontou para um canto escuro me condenando a essa sentença. Ficar ali e aprender a ser solitário, você não será mais como você já foi, você será solitário e só você vai entender isso que você sofre. Bem, você não vai entender mas também não vai conseguir explicar e nem dividir com ninguém. Sua sentença é ficar só até quando alguma coisa, um milagre, enfim qualquer coisa mostrar o contrário.

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